domingo, 21 de junho de 2009

D. Pedro, IV de Portugal, I do Brasil

D. Pedro, que se encontra ligado à história desta ilha no período do liberalismo, compôs um Missa ao estilo clássico, operático e de influência claramente italiana, para soprano, contralto, tenor, barítono, coro e orquestra.

É provável que muitos alemães deconheçam que Frederico da Prússia era um flautista e compositor notável, no entanto é certo que a grande maioria dos portugueses não sabe que, assim como os seus antepassados da Casa de Bragança, D. Pedro tinha fascínio e vocação para a música. Foi educado na arte musical por José Maurício Nunes Garcia¹, Marcos António da Fonseca Portugal² e Sigismund Neukomm³. O príncipe sabia tocar instrumentos musicais como: piano, flauta, fagote, trombone, violino, clarinete, violão, lundu e cravo, e compôs diversas obras, tais como, além da Missa Solene, já mencionada, uma Missa Brevis, sinfonias e um Te Deum – que, na estreia, foi dirigido por Marcos Portugal – um Credo, um Adjuva nos, a antífona Sub tuum presidium, bem como um Moteto a S. Pedro de Alcântara. Além disso, compôs hinos, como o hino da maçonaria, uma das versões do hino da Independência do Brasil e o hino da Carta, considerado de 1834 até 1910 como o hino nacional Português. De 1809 a 1834, o hino Português era o final da Cantata La Speranza, o sia l’ Auguro Felice, de Marcos Portugal, composta para assinalar o aniversário natalício de D. João VI, estreada em S. Carlos em Maio de 1809. O hino final da cantata, conhecido sob o título de Hino do Príncipe ou Hino de D. João, tornou-se então o hino oficial Português.


Como instrumentista distinguiu-se mais no clarinete, daí que a sua Missa tenha vários solos do mesmo. Para além de clarinetista e compositor, Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Gabriel Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon foi também modinheiro e poeta. Tinha grande interesse por actividades que requeressem uma certa habilidade física, como pintura, litografia, escultura e frequentou constantemente as aulas de desenho da Academia de Belas-Artes. Era também um excelente mecânico, marceneiro e torneiro, além de dedicar bastante tempo a exercícios físicos, equitação e caça.

¹ José Maurício Nunes Garcia (Rio de Janeiro, 22 de Setembro de 1767 – 18 de Abril de 1830). Compôs a sua primeira obra em 1783, aos 16 anos. Estudou com Salvador José de Almeida Faria, músico mineiro. Em 1798 torna-se mestre-de-capela da Sé Catedral do Rio de Janeiro.Em 1816 dirige um Requiem, da sua autoria, em homenagem a D. Maria I, que morrera naquele ano no Rio. Estabeleceu grande amizade com o compositor austríaco Sigismund Neukomm. Mais tarde, Nunes Garcia dirige as estreias brasileiras do Requiem de Mozart (1819) e de A Criação de Haydn (1821). Em 1826 compôs sua última obra, a Missa de Santa Cecília, para a irmandade de mesmo nome. 

² Marcos António da Fonseca Portugal (Lisboa, 24 de Março de 1762 — Rio de Janeiro, 17 de Fevereiro de 1830). Foi aluno do compositor João de Sousa Carvalho, realizando sua primeira composição aos 14 anos de idade. Foi organista e compositor da Sé Patriarcal de Lisboa, e mestre do Teatro do Salitre. Foi bolseiro em Itália de 1792 a 1800, onde compôs várias óperas que foram encenadas em vários teatros italianos, como o La Scala de Milão. Voltou a Portugal em 1800, sendo nomeado mestre de música do Seminário da Patriarcal e maestro do Teatro de São Carlos de Lisboa, para o qual compôs várias óperas. Em 1811 viaja para o Rio de Janeiro, sendo nomeado compositor oficial da Corte e Mestre de Música de Suas Altezas Reais os Infantes, dos quais se destaca o príncipe Pedro, futuro Pedro I do Brasil e Pedro IV de Portugal.
 
³ Sigismund Neukomm (Salzburg, 10 de Julho de 1778 – Paris, 3 de Abril de 1858). Foi aluno de Michael Haydn que lhe confiou parte de suas funções de organista. Transferiu-se para Viena, onde por estudou com Joseph Haydn. Em 1804, foi nomeado Kapellmeister no Teatro Alemão de São Petesburgo (Rússia). Voltou a Viena em 1809 onde ocupou o cargo de músico da casa do Príncipe de Talleyrand. Integrou a comitiva do Duque de Luxemburgo, embaixador extraordinário de Luís XVIII, que se deslocou ao Brasil para discutir questões de limites (Guiana Francesa), e incrementar as relações diplomáticas entre França e Brasil. Foi membro da Missão Artística Francesa, que criou a Academia de Belas Artes do Rio de Janeiro. Permaneceu no Rio de Janeiro entre 1816 e 1821. Foi professor do Príncipe D. Pedro, de sua esposa Leopoldina – arquiduquesa de Áustria, e da Princesa D. Isabel Maria. Foi pioneiro na utilização de temas brasileiros na música erudita. Consta que foi também professor de Francisco Manuel da Silva (1795-1865) – compositor brasileiro que também fora aluno de José Maurício, e que em jovem compusera um Te Deum dedicado a D. Pedro I.