sexta-feira, 12 de setembro de 2008

D. José Pegado de Azevedo

D. José Pegado de Azevedo (Lisboa, 13 de Março de 1750 — Ponta Delgada, 19 de Junho de 1812) foi o 24.º bispo de Angra, tendo governado a diocese de 1802 a 1812. Era padre da Congregação do Oratório e tinha sido militar. Gozou fama de bom pregador e de bom teólogo. Esforçou-se por reformar a diocese, mas teve de se contender com uma constante sucessão de escândalos envolvendo os conventos de freiras, então já em pleno declínio e em absoluta desmoralização, com frequentes violações da clausura, num ambiente em que se poderia dizer tudo dos conventos açorianos, excepto que as suas ocupantes eram castas. Minado por dissabores diversos, acabou por falecer em Ponta Delgada, onde se encontra sepultado. Era grande amante da música sacra, tendo fomentado a sua expansão na diocese. Apesar do edifício já se encontrar há muito concluído, sagrou a Sé Catedral de Angra, numa cerimónia realizada a 16 de Outubro de 1808.


«Era muito apaixonado pela música, razão por que em seu tempo se executou na Sé com a maior perfeição em todas as festividades que nela se faziam; e o mesmo gosto se foi estendendo às outras igrejas por sua influência, e de seus delegados, principalmente na vila da Praia, e nos mosteiros de freiras, donde já nesse tempo havia desaparecido o estatuto, que ordenava se dissesse o ofício divino em “cantochão simples, e uniforme, e não em canto de órgão, nem contraponto ; e o mesmo acontecia em quase todos os mosteiros da província seráfica: e foi na verdade esta a época em que mais floresceu a música, e se acharam os mais completos executores, entre os quais se distinguiram o mestre da capela Manuel Machado Diniz, que faleceu cónego da mesma catedral; João José da Silva, que em Lisboa aprendeu esta arte , e tanto a fundo que ninguém cá nas ilhas o excedeu, assim nos preceitos do contraponto, como na execução, o que ainda atestam as suas muitas obras neste género; de cantochão os muitos livros que na Sé existem por ele compostos no maior asseio, perfeição, e inteligência; e de música os excelentes motetes: “Paixão de Dia de Ramos”, “Lições a 4”, “Ofício de Defuntos”, e outras composições, que tudo se julgou no valor de quatro mil cruzados, quantia naquele tempo considerável, e que ainda assim mesmo não era suficiente para trabalho de tanto merecimento com que este respeitável eclesiástico se entreteve uma grande parte da sua vida.

Também aqui floresceram os padres José Pinheiro, por sua melíflua voz de basso, e Manuel Caetano, prendado organista, e Francisco Jerónimo, secular, ambos discípulos do padre José Benedicto, que a todos se avantajou e faleceu organista desta catedral, com o crédito de ser o melhor de todas estas ilhas, como discípulo do padre João da Silva Morais, mestre da capela na real basílica de Santa Maria.»
Francisco Ferreira Drumond. Anais da Ilha Terceira, 3º Volume (1801)