quarta-feira, 10 de setembro de 2008

João José Baldi

Nasceu João José Baldi em Lisboa, no ano de 1770, recebendo a sua principal instrução no Seminário Patriarcal, para onde entrou aos onze anos, em 1781. Estava então no apogeu o ensino da música naquele instituto. João de Sousa Carvalho, Jerónimo Francisco de Lima, seu irmão Braz Francisco de Lima, e Camilo Cabral haviam regressado da Itália, onde estudaram por conta das rendas patriarcais, e foram logo nomeados mestres do Seminário; além destes havia ainda o velho mestre José Joaquim dos Santos, que fora discípulo predilecto de David Perez e era contrapontista consumado, hábil sobretudo no ensino do acompanhamento (baixo cifrado). João de Sousa Carvalho sobressaíra a todos na dedicação pelo ensino e método empregado, tendo já produzido dois discípulos bem notáveis: Leal Moreira, que recentemente passara de discípulo a mestre, e Marcos Portugal, que nesse momento ensaiava os primeiros voos do seu grande génio, admirado em toda a Europa. Foi neste meio que se criou João Baldi, e bem depressa revelou uma aptidão excepcional, que facilmente se desenvolveu entre tais mestres.


Tornado rapidamente em cantor (todos os aspirantes a músicos naquele tempo começavam por aprender a cantar), organista e pianista hábil, estreou-se como compositor antes dos dezanove anos: têm a data de 1789 as partituras de duas missas dele que existem no cartório da Sé de Lisboa. Essas partituras serviram-lhe naturalmente de diplomas comprovativos da ciência adquirida, porque no mesmo sobredito ano de 1789 partiu para a cidade da Guarda, em cuja catedral foi desempenhar as funções de mestre da capela. Cinco anos depois, transferiu-se para a Sé de Faro, e mais tarde, em 1800, regressou a Lisboa a fim de ocupar o lugar de segundo mestre da Real Capela da Bemposta. Era primeiro mestre nesta capela o sábio contrapontista e organista Luciano Xavier dos Santos; falecido este, em 1806, Baldi ascendeu imediatamente ao primeiro lugar, vindo substitui-lo como segundo organista o compositor que se tornou bem notável e fecundo, frei José Marques. Exerceu cargos na capela real, na sé patriarcal e no seminário; a sua música religiosa acusa demasiado afeiçoamento ao gosto italiano, chegando a exageros pouco aceitáveis; escreveu também música para o teatro; a sua obra, que na época teve grande divulgação, em Portugal, no Brasil e no estrangeiro, está hoje quase completamente esquecida, apenas poucos agrupamentos vocais incluem alguns números no seu reportório.